domingo, 4 de agosto de 2013

BIKESPOT - The beginning!!!



            Começa hoje a história da Bikespot. Começa em grande com o meu primeiro trabalho, que foi, e muito me sinto honrado por isso, a limpeza/recuperação desta velhinha beldade.

O Sr. José, vizinho aqui da loja, desde que aqui estou que passa em frente à porta e acena, fazendo um gesto com a cabeça, cumprimentando-me. Há uns dias entrou:-" Oiça lá, também limpa bicicletas? Tenho uma de corrida, quer limpá-la? Também precisa de uns travões novos..."
- Claro que sim, respondi. Estou cá mesmo para isso!
- Amanhã trago-lha!




                      Assim foi, eram 11h00 da manhã bem medidas. O Sr. José não é de atrasos, já cá tinha estado.  -" Não faz mal", disse ele quando me desculpei pelo atraso. -"Aproveitei e fui beber um café com a minha menina." A mão firme segurava a bicicleta pelo selim de couro já cansado, segurava-a a seu lado, vestido à ciclista, parecia um profissional. Sorriu-me. O olhos imersos em água brilham de tal maneira que se torna dificil para o seu interlocutor perceber o mar de rugas vincadas presentes naquela face de pessoa idosa. O dentes assimétricos e amarelos compõem o sorriso mal amanhado do velho ciclista, dando-lhe um ar gasto e cansado. 

- Sim senhor, passe por cá perto das 7. E despedi-me, agradecendo.

             Praticamente passei o dia de volta da bicla. Fez lembrar-me uma ciganita, suja e com o cabelo em desalinho, piolhosa, mas bonita. Pouco depois de dar inicio à empreitada, comecei a sentir um certo prazer em descobrir a bicicleta que há muito existia debaixo de toda aquela sujidade. Pouco a pouco os cromados antigos e de boa qualidade lá foram aparecendo, reluziam de felicidade. Havia muito que limpar, muitos recantos reconditos com óleos de outras épocas, secos e negros, incrustados na pintura, como tatuagens. Timidamente, a velha bicicleta foi mostrando o seu esplendor. As peças, antigas mas de optima qualidade, não se recusaram à banhoca com os solventes radicais que fui aplicando, a medo, não fosse estragar a pintura.
             A meio da tarde o dono veio ver como estava a correr. Estava de passagem, demorou-se pouco.
          - Bela máquina que aqui tem, comentei eu, obrigando o homem a demorar-se mais do que o previsto.
           - "Já tem uns anitos, mas ainda está para as curvas.", retorquio o Sr. José nitidamente parando para a conversa, o assunto agrada-lhe. -" Deve ser a ultima que tenho... já vou com 83 anos, não quero ter mais nenhuma bicicleta. Já cheguei ao fim... enfim...",continua " ...tudo tem um fim, claro está. Já fui um grande corredor mas nunca quis ser profissional. Ando de bicicleta pelo gozo que me dá, quero andar como e quando me apetece, por prazer, e não por obrigação! Já lá vai o tempo que pedalava muitos quilómetros, todos os dias... mas isso eram outros tempos. Deixei de andar há uns anos... quando a minha mulher adoeceu... agora sou sozinho...", fez uma pausa demorada, a recompor-se.  "- Bem, passo por cá mais tarde, até logo!"
               No final da tarde passou por cá para vir buscar a bicicleta. Deixei-a propositadamente encostada à bancada, logo que entrasse, seria a primeira coisa que veria, estava linda, esmerei-me. Acho que ela também se sentia bem, já não estava triste.

    
O dono entrou e deu logo de caras com ela: -" Está linda!" , disse sorrindo enquanto se aproximava da companheira, pegando-lhe de imediato, " Assim, sim! Até parece mais leve!". Experimentou os travões e perguntou-me quanto devia, pagando-me de imediato. Ainda se demorou uns minutos contando partes da sua vida, sempre com bicicletas à mistura. Despediu-se dizendo: "Tenha um resto de dia feliz." E saiu, com a sua menina pela mão. Pareceu-me um pouco menos sozinho.




















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